A espasticidade é um sintoma neurológico motor, caracterizado pelo aumento exacerbado da contratura muscular, em resposta ao movimento de um membro, e está relacionado com a velocidade que este movimento é…
A espasticidade é um sintoma neurológico motor, caracterizado pelo aumento exacerbado da contratura muscular, em resposta ao movimento de um membro, e está relacionado com a velocidade que este movimento é executado e varia conforme a direção do movimento articular.
Está presente em diversas condições neurológicas, como na paralisia cerebral, em pacientes com sequelas motoras relacionadas a anóxia cerebral ou prematuridade. Em pacientes com sequelas relacionadas a causas isquêmicas de lesão cerebral, como no acidente vascular cerebral ou traumáticas, como nos traumatismos cranioencefálicos graves ou mesmo em pacientes com sequelas motoras, devidos lesões medulares traumáticas, infecciosas ou neurodegenerativas.
Quando os medicamentos como o baclofeno e a toxina botulínica não conseguem mais aliviar a espasticidade e a rigidez dos membros, ou quando os pacientes não conseguem mais executar os movimentos, sejam eles passivos ou ativos, e o aumento do tônus muscular piore a função motora, seja na marcha ou na postura, o tratamento cirúrgico deve ser considerado para evitar ou minimizar as deformidades ortopédicas.
A lesão no sistema nervoso central, gera a informação de hipertonia e aumento da contração muscular, e por falta da resposta adequada de um neurônio aferente, encontramos o aumento do arco reflexo medular.
A rizotomia atua diretamente nas raízes dorsais que são responsáveis por levar esta resposta do espasmo à porção do sistema nervoso central lesado. Cortando uma porção destas radículas dorsais, diminuímos a informação do espasmo no cérebro e na medula espinhal, e deixamos os membros menos contraídos, sem que isso diminua o movimento, já que não se lesa raízes motoras nesta cirurgia.
A rizotomia dorsal superseletiva é uma técnica cirúrgica que visa o tratamento de quadros de espasticidade de membros inferiores, de forma segura e efetiva.
O paciente sob anestesia geral e monitorização neurofisiológica, ou seja, com o acompanhamento de um neurologista clínico, especializado na avaliação das raízes motoras (ventrais) e sensitivas (dorsais), realiza o procedimento em posição ventral.
O neurocirurgião sob visão microscópica direta, destas raízes, realiza uma janela óssea, geralmente entre a vértebra de T12 e L1, abre a membrana dura-máter na altura do cone medular e, após a estimulação das raízes dorsais, que são responsáveis por levar a informação do espasmo para o sistema nervoso central, secciona parte delas. Cada radícula é responsável por uma região muscular. Na altura do cone medular, podemos localizá-las todas juntas, desde L1-S2, de ambos os lados, totalizando 14 radículas expostas, que são cuidadosamente estimuladas uma a uma.
O controle de esfíncteres também é monitorizado pelo neurologista que acompanha o procedimento, minimizando os possíveis prejuízos desta função dos nervos sacrais baixos responsáveis pela controle da continência fecal (esfíncter anal) e urinária ( vesical), além da função sexual. Já que estas raízes não são seccionadas durante o procedimento.
Como qualquer procedimento cirúrgico tem riscos e benefícios.
Como benefício desta técnica cirúrgica, conhecida como técnica de Pack, utilizada pela nossa equipe cirúrgica, descrita em 2006, temos a vantagem de diminuir a deformidade da coluna vertebral, por realizarmos sob uma laminectomia de apenas um segmento, colocando osso novamente, após a realização do procedimento. Esta técnica é modificada da convencional (que é realizada por uma janela óssea ampla em 5 segmentos da coluna de L1 a L5), chamada de técnica de Peacock de 1986.
As possíveis complicações relacionadas a este procedimento são a fístula liquórica (vazamento do líquido da espinha- líquor- pelo orifício do corte da cirurgia), infecção do sítio cirúrgico, ou seja, da região de pele e musculatura operada, espasticidade residual (em casos de espasticidade grave, pacientes com paralisia cerebral GMFCS IV e V ou com quadro de distonia associadas), dormência nas pernas (parestesias, geralmente com duração de poucos dias), hematoma no local da cirurgia.
Antes do procedimento, podemos realizar um teste de baclofeno intratecal, ou seja, por uma a punção lombar realiza-se a aplicação de baclofeno, diretamente nas raízes dorsais, para avaliar o quanto a espasticidade é prejudicial para os pacientes, simulando de forma farmacológica os possíveis benefícios da cirurgia.
A fisioterapia intensiva após o procedimento é essencial para obtermos melhores resultados cirúrgicos. Os pacientes precisam aprender a se movimentar sem o componente do espasmo, o que precisa de treino e foco da família e da fisioterapia responsável.