A espasticidade é um sinal clínico que ocorre em inúmeras condições neurológicas,pois muitas lesões neurológicas causam a perda da função motora de uma determinada região. O acidente vascular cerebral (AVC), aesclerose múltipla, a lesão cerebral hipóxica, a lesão cerebral traumática, a lesão medular, os tumores e as doenças degenerativas podem cursar com espasmos musculares em regiões anatômicas que apresentem acometimento motor.
A espasticidade tem um impacto significativo no indivíduo, pela perda de funcionalidade e autonomia, e também pelo seu impacto na qualidade de vida. Além disso, a espasticidade está associada a custos substanciais para tratamento farmacológico e de reabilitação, tratamento de complicações e apoio ao cuidador.
Porque a espasticidade se manifesta?
O cérebro ou medula espinhal lesionados apresentam a interrupção da informação necessária para executar o movimento, o que na neurologia é chamado de lesão do neurônio motor. As alterações dos neurônios motores podem ocorrer pela falta do desenvolvimento adequado do sistema nervoso central ou adquiridas, ao longo da vida, por alguma doença neurológica que cause uma sequela motora. Por está falta de comunicação das vias neurológicas se perpetuam sintomas neurológicos como: aumento da contratura muscular e tônus muscular, rigidez do movimento, posturas anormais e os espasmos musculares.
Na síndrome do neurônio motor podem ser observado fenômenos negativos como a fraqueza, fadiga ou a diminuição de destreza; ou fenômenos positivos como a clônus, sinal de Babinski, espasticidade, espasmos de musculos flexores e ectensores, padrao de contracao dissinérgica ou distonias. Os fenomenos positivos da sindrome do neuronio motor podem ser interpretados como formas de expressão da espasticidade.
A espasticidade é quando ocorre o aumento do tônus muscular (que é a força que o músculo faz para realizar os seus movimentos), de forma contínua, impedindo a execução adequada do movimento, dos braços ou das pernas, ou ambos, impedindo o relaxamento destes músculos, principalmente em músculos antigravitacionais.
Frequência da espasticidade em cada doença neurológica
Os números de incidência e prevalência da espasticidade são variáveisa depender de cada doença. No AVC, estima-se que cerca de 38-40% dos pacientes apresentarão algum grau de espasticidade e 16% necessitarão de tratamento. Isso será diferente dependendo do tempo decorrido e varia na fase crônica (> 3 meses). Já em pacientes com lesão medular, mas estima-se que 40% das pessoas terão espasticidade.
Na esclerose múltipla, a espasticidade pode estar presente em mais de 80% dos pacientes em algum momento da doença ; na paralisia cerebral, em 72-91%, principalmente em pacientes com um maior acometimento motor, e no traumatismo craniano moderado-grave, até 63,4%.
O que é Paralisia Cerebral?
A espasticidade pode estar relacionada a crianças que apresentaram no nascimento anóxia neonatal, que é a falta ou a diminuição de oxigênio no cérebro no momento do parto, causando variados graus de sequelas no movimento e na coordenação. Pacientes que apresentaram no nascimento prematuridade, podem apresentar comprometimento e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ao longo da vida, também pode cursar com espasticidade e outros distúrbios do movimento. Se considerarmos qualquer lesão neurológica que cause alterações motoras em um cérebro em desenvolmento até os 2 anos de idade, utilizamos o termo medico paralisia cerebral para classificar estas manifestações clínicas.
Tratamento da espasticidade
A espasticidade gera dor, limitação do movimento, atrapalha a reabilitação e causa sofrimento do paciente e dos seus familiares.
O seu tratamento depende quantos grupos musculares são acometidos, se ela impacta negativamente na execução dos movimentos. Medicamentos anti-espasmódicos e o uso toxina botulínica intramuscular podem ser aliados no tratamento da espasticidade. Casos que os espasmos impactem na marcha, causem deformidades articulares ou gerem dor, devem ser direcionados ao tratamentos neurocirúrgicos.
A bomba de infusão de fármacos, com utilização preferencialmente do baclofeno intratecal, é uma das alternativas para espasticidade de membros superiores e de membros inferiores, outros procedimentos que podem ser avaliados são a rizotomia dorsal superseletiva e o tractotomia de Lissauer (Drez-tomia).
Fontes sobre o assunto
Sáinz-Pelayo MP, Albu S, Murillo N, Benito-Penalva J. Espasticidad en la patología neurológica. Actualización sobre mecanismos fisiopatológicos, avances en el diagnóstico y tratamiento [Spasticity in neurological pathologies. An update on the pathophysiological mechanisms, advances in diagnosis and treatment]. Rev Neurol. 2020 Jun 16;70(12):453-460. Spanish. doi: 10.33588/rn.7012.2019474. PMID: 32500524.