O papel do neurocirurgião no tratamento da Doença de Parkinson

O que é Doença de Parkinson?

  A doença de Parkinson é a segunda causa mais comum de doença neurodegenerativa, condição neurológica crônica que afeta  mais de  6 milhões de pessoas em todo o mundo. Caracterizada principalmente pela perda progressiva do controle motor, incluindo lentidão dos movimentos, rigidez, mudanças posturais e da marcha.  A  doença  impacta  significativamente nas atividades de vida diária e na qualidade de vida dos pacientes. Embora o tratamento medicamentoso, associado a fisioterapia e demais terapias multidisciplinares sejam a abordagem padrão para o controle dos sintomas, a cirurgia também desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com Parkinson. O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que afeta o sistema nervoso central. O seu tratamento é baseado no controle dos sintomas, pois não temos uma cura para a doença. Os sintomas motores  podem variar de leves a graves, e sua progressão pode ser diferente para cada indivíduo. Os pacientes com essa doença enfrentam desafios diários, como dificuldades na realização de tarefas simples, limitações na mobilidade e impacto emocional. Portanto, um tratamento adequado é fundamental para ajudar esses pacientes a viver uma vida mais funcional e satisfatória. Embora a doença seja definida por seus sintomas motores, a doença de Parkinson também apresenta os sintomas não motores como a :
  • hiposmia ( perda parcial do olfato)
  • constipação ( intestino preso)
  • distúrbios urinários
  • hipotensão ortostática (diminuição da pressão arterial na mudança de posição)
  •  perda de memória
  • dor crônica
  • distúrbios do sono
  •  outros
Os sintomas não motores da doença de Parkinson são os primeiros sintomas a se manifestarem, antes mesmo de um diagnóstico definitivo, eles estão presentes na fase pré-clínica da doença.  

Como é realizado o diagnóstico da Doença de Parkinson?

  Antes de falarmos sobre os tratamentos, uma das coisas mais importantes sobre a doença de Parkinson é sabermos se o paciente  realmente apresenta o diagnóstico correto. Nem sempre em uma primeira consulta com o neurologista um diagnóstico é possível, vai depender do estágio da doença que o paciente apresenta, sua resposta aos medicamentos e da sua evolução ao longo dos anos. A certeza do diagnóstico correto depende de um acompanhamento adequado e da resposta dos pacientes aos medicamentos. Estima-se que 15-24 % dos pacientes diagnosticados com a doença não tenham realmente Parkinson.  Estes pacientes podem apresentar Parkinsonismo Secundário ou Parkinsonismo Atípico.   

Parkinsonismo Secundário o que é?

  Termo médico utilizado para diferenciar a doença de Parkinson de sintomas que parecem Parkinson mas são relacionados a outras causas que não neurodegenerativas:
  • Causado por medicamentos: antipsicóticos, antieméticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, antagonistas do canal de cálcio;
  • Causado por lesões vasculares;
  • Causado por infecções;
  • Causado por substâncias tóxicas  ( Cobre e Manganês)
   

Parkinsonismo Atípico, o que é?

  Pacientes que apresentam alguns sintomas semelhantes à Doença de Parkinson, geralmente, mais severos com uma característica de piorar ao uso da Levodopa. Outras doenças neurodegenerativas, como por exemplo: a Atrofia de Múltiplos Sistemas ou a Paralisia Supranuclear Progressiva devem ser investigadas pela equipe de neurologia na suspeita do Parkinsonismo Atípico. Pacientes com Parkinsonismo Secundário ou Parkinsonismo Atípico não são candidatos a Cirurgia do Parkinson. 

Abordagens de tratamento da Doença de Parkinson

Existem várias abordagens para o tratamento da doença de Parkinson, que incluem terapia medicamentosa, terapia física e ocupacional e equipe de saúde mental. Embora a terapia medicamentosa seja amplamente utilizada para controlar os sintomas, ela nem sempre é eficaz em longo prazo. É nesse momento que entra o neurocirurgião.  

O papel do neurocirurgião na Doença de Parkinson

  O neurocirurgião desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com Parkinson. Após a triagem adequada pela equipe de neurologia, a avaliação inicial do paciente cirúrgico é fundamental para determinar qual dos tratamentos cirúrgicos  são viáveis. O neurocirurgião realizará uma avaliação detalhada dos sintomas, histórico médico e exames de imagem para tomar uma decisão informada. A cirurgia depende de uma ressonância magnética de qualidade, para a escolha da melhor posição do implante de eletrodo cerebral  ou da escolha da melhor área de lesão. Caso o tratamento cirúrgico seja recomendado, o neurocirurgião discutirá as opções disponíveis com o paciente e seus familiares. Existem diferentes procedimentos cirúrgicos que podem ser realizados para tratar os sintomas do Parkinson, sendo os mais comuns: a estimulação cerebral profunda, do inglês, Deep Brain Stimulation (DBS), a palidotomia e a talamotomia. A estimulação cerebral profunda – DBS , é um procedimento cirúrgico em que eletrodos são implantados em áreas específicas do cérebro, geralmente nos núcleos subtalâmicos, conectados a um dispositivo semelhante a um marca-passo que fornece estímulos elétricos controlados. Esses estímulos ajudam a modular a atividade cerebral e reduzir os sintomas motores do Parkinson. O DBS é alimentado por um gerador e deve ser ajustado em conjunto com o ajuste dos medicamentos do paciente de forma presencial nas consultas médicas. Pacientes que moram em áreas distantes que não consigam ter acesso a equipe médica com frequência devem pensar em outras abordagens cirúrgicas. Outros procedimentos cirúrgicos menos comuns incluem a palidotomia e a talamotomia, que envolvem a lesão ou a destruição de áreas específicas do cérebro para aliviar os sintomas do Parkinson.    

Benefícios do Tratamento Cirúrgico com DBS na Doença de Parkinson

    O tratamento cirúrgico pode trazer vários benefícios significativos para os pacientes com Parkinson. A melhora dos sintomas motores, como tremores e rigidez muscular, é um dos principais resultados esperados. Além disso, muitos pacientes relatam uma redução na necessidade de medicação após a cirurgia, o que pode diminuir os efeitos colaterais associados aos medicamentos. O tratamento cirúrgico também pode ter um impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes. A recuperação da mobilidade perdida e a capacidade de realizar atividades diárias sem limitações podem aumentar o bem-estar geral e a independência.  

Riscos e considerações sobre a Cirurgia de DBS na Doença de Parkinson

  Assim como qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos envolvidos no tratamento cirúrgico para o Parkinson. Possíveis complicações incluem infecção, sangramento, lesões cerebrais e efeitos colaterais em longo prazo. No entanto, esses riscos são cuidadosamente avaliados pelo neurocirurgião em conjunto do paciente e da família, antes de tomar a decisão de prosseguir com a cirurgia. A seleção adequada de pacientes também desempenha um papel fundamental no sucesso do tratamento cirúrgico. Nem todos os pacientes com Parkinson são candidatos ideais para a cirurgia, e a decisão final será baseada em uma avaliação cuidadosa de cada caso individual em conjunto com a equipe de neurologia e da neurocirurgia.    

Seleção do paciente para a Cirurgia do Parkinson? 

  Bons candidatos a cirurgia do Parkinson devem preencher alguns requisitos: Apresentar uma boa avaliação da equipe multiprofissional, com uma boa resposta dos sintomas, em algum momento da doença, ao teste de levodopa; Ter um diagnóstico da doença há mais de 4 anos. Não apresentar sintomas de demência ou doença psiquiátrica não controlada na avaliação neuropsicológica e psiquiátrica. Além de ter uma Ressonância Magnética de Encéfalo de qualidade. Lembrando que apenas 10-20 % dos pacientes com Doença de Parkinson serão candidatos a cirurgia.  

Quem não deve fazer cirurgia do Parkinson?

  Pacientes com demência associada ao Parkinson; Pacientes que apresentem doenças psiquiátricas graves não controladas; Pacientes com dificuldades de acesso a equipe de ajustes do neuroestimulador DBS;  

Casos de sucesso

  Existem muitos casos de sucesso em que pacientes com Parkinson se beneficiaram significativamente do tratamento cirúrgico. A recuperação da função motora perdida e o retorno a uma vida mais ativa e independente são resultados que podem ser alcançados. Testemunhos de pacientes que passaram pelo tratamento cirúrgico para Parkinson destacam a melhora na qualidade de vida e a redução dos sintomas que antes eram debilitantes. Essas histórias de sucesso são inspiradoras e proporcionam esperança para outros pacientes que enfrentam a doença.  

Perspectivas futuras

  A neurocirurgia para o tratamento do Parkinson continua evoluindo e avançando. Novas técnicas e tecnologias estão sendo desenvolvidas, visando melhorar ainda mais os resultados e reduzir os riscos associados aos procedimentos cirúrgicos. Além disso, pesquisas estão em andamento para entender melhor os mecanismos subjacentes à doença de Parkinson e desenvolver terapias mais eficazes. O objetivo final é encontrar uma cura para essa condição neurodegenerativa, proporcionando uma vida livre dos sintomas do Parkinson para todos os pacientes. Se você ou um ente querido está enfrentando o Parkinson, é importante buscar a orientação de um neurocirurgião especializado nessa área. Com uma avaliação adequada e um plano de tratamento personalizado, é possível alcançar resultados positivos e retomar a qualidade de vida perdida.  

Referências:

Tolosa E, Garrido A, Scholz SW, Poewe W. Challenges in the diagnosis of Parkinson’s disease. Lancet Neurol. 2021 May;20(5):385-397. doi: 10.1016/S1474-4422(21)00030-2. PMID: 33894193; PMCID: PMC8185633.
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Dra. Giana Kühn
A Dra. Giana Flávia Kühn é uma neurocirurgiã especializada em neurocirurgia funcional e tratamento de dores crônicas. Dra. Giana se dedica a oferecer cuidados de alta qualidade utilizando técnicas avançadas e inovadoras. Com um compromisso constante com a atualização e o aprendizado, ela visa proporcionar alívio duradouro e melhorar a qualidade de vida de seus pacientes. Atualmente, atende em São Paulo, onde oferece um atendimento humanizado e personalizado.
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Dra. Giana Kühn
A Dra. Giana Flávia Kühn é uma neurocirurgiã especializada em neurocirurgia funcional e tratamento de dores crônicas. Dra. Giana se dedica a oferecer cuidados de alta qualidade utilizando técnicas avançadas e inovadoras. Com um compromisso constante com a atualização e o aprendizado, ela visa proporcionar alívio duradouro e melhorar a qualidade de vida de seus pacientes. Atualmente, atende em São Paulo, onde oferece um atendimento humanizado e personalizado.

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