O que é Cannabis Medicinal?
São substâncias extraídas da planta Cannabis que são utilizadas em tratamentos médicos, estas moléculas bioativas também são conhecidos como fitocanabinóides. Existem centenas de fitocanabinoides na planta, mas nem todas estas subtâncias têm os seus possíveis efeitos conhecidos.
Das substâncias extraídas na Cannabis mais conhecidas e estudadas temos o delta-9-tetrahydrocannabinol (THC) e o cannabidiol (CBD).
Em quais doenças, até o momento, o tratatamento com Cannabis Medicinal é indicado?
O THC é responsável pelos efeitos psicoativos da cannabis devido à sua ação nos receptores canabinóides CB1. Apesar dos efeitos estarem presentes em doses mais elevadas, existem evidências de ensaios clínicos que parecem apoiar alguma efeito do THC no tratamento de condições como dor crônica, espasticidade na esclerose múltipla, anorexia e caquexia, síndrome de Tourette e nos sintomas de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia.
O CBD tem uma ampla gama de ações farmacológicas, mas os efeitos psicoativos do THC. Evidências iniciais sugerem ações terapêuticas do CBD em doses relativamente altas (300–1500 mg) no tratamento da epilepsia, ansiedade e psicose.
O uso da Cannabis Medicinal no tratamento da dor crônica
Os canabinóides endógenos,ou seja substâncias produzidas pelo nosso corpo, como a anandamida e o 2-araquidonoilglicerol, são secretados em momentos de estresse e são conhecidos por terem muitos efeitos posteriores diferentes, que incluem a regulação do humor, do apetite e da nocicepção. Da mesma forma, os principais componentes químicos da cannabis, o THC e canabidiol (CBD), atuam nos receptores canabinóides 1 e 2 para produzir efeitos antinociceptivos.
Tratamento da Enxaqueca e outros tipos de dor de cabeça
Durante a crise de enxaqueca sintomas com nâuseas, vômitos, ansiedade e dor podem ser aliviados pela administração de produtos de cannabis. As formulações orais podem tambem ser úteis para o tratamento preventivo das crises de migrânea. Além da enxaqueca e da dor de cabeça por uso excessivo de medicamentos, outros tipos de dor de cabeça também podem se beneficiar do tratamento com cannabis. Existe um possível benefício do uso da cannabis em pacientes com cefaleia tipo cluster e também em pacientes com esclerose múltipla associada a nevralgia trigeminal, porém é necessário estudos melhor delineados para comprovar a eficácia do tratamento.
Dor musculoesquelética
O uso de cannabis medicinal para o tratamento da dor musculoesquelética crônica permanece polêmico. A principal limitação do tratamento da dor musculoesquelética com cannabis medicinal é que os estudos mais relevantes se concentram em lesões da medula espinhal, esclerose múltipla e fibromialgia.
Os nabiximols contêm uma proporção aproximada de 1:1 THC/CBD e foram aprovados para o tratamento da espasticidade intratável relacionada à esclerose múltipla em humanos em vários países europeus e no Canadá. E também no Brasil (Mevatyl- nome comercial,) onde é o único produto derivado da cannabis diponível na farmácia considerado medicamento pela Anvisa, por apresentar mais estudos a longo prazo e com um maior número de pacientes.
Embora existam algumas evidências apoiem o uso de cannabis medicinal para dor de artrite reumatóide e na dor orofacial, não foram realizados ensaios randomizados com pacientes com osteoartrite ou dor miofascial.
A evidência para o tratamento da dor relacionada ao câncer com cannabis é considerada de nível II devido a 3 grandes ensaios clínicos randomizados bem elaborados sobre o tema. No entanto, está evidência produz apenas uma recomendação de grau D, devido à falta de ensaios clínicos mais robustos e em todos os contextos de câncer.
Dor relacionada ao câncer
Existe um possível benefício do uso da cannabis em pacientes oncológicos, principalmente naqueles pacientes que estejam realizando quimioterapia por fornecer benefícios na analgesia, estimulação do apetite e na redução da êmese.
Embora a FDA Americano, equivalente a ANVISA Brasileira, tenha aprovado o uso de certos cannabinoides para o tratamento de náuseas e vômitos, anorexia e perda de peso, em paciemtes oncológicos nenhum cannabinoide está aprovado para o tratamento da dor relacionada com o câncer. Embora a dor relacionada ao câncer seja normalmente tratada com o uso de opioides, muitos pacientes apresentam dor refratária aos opióides ou limitada por efeitos adversos do seu uso e recorrem a está terapia.
Dor crônica pós- operatória
A dor pós-cirúrgica persistente ocorre em 10% a 20% dos pacientes e normalmente dura de 3 a 6 meses após um procedimento. Existem estudos em andamento para comprovar o possível benefício dos cannabinoides nesta indicação clínica.
Fibromialgia
A fibromialgia é uma síndrome dolorosa que leva a dor crônica generalizada. Além disso, está associada a outros sintomas incapacitantes, como fadiga, distúrbios do sono e depressão/ansiedade. Na população em geral, a prevalência global estimada é de 2,7%, e os pacientes mais afetados são do sexo feminino. A fibromialgia é a terceira causa de dor musculoesquelética após dor lombar e osteoartrite.
Sobre o uso da cannabis medicinal na fibromilagia existem estudos com uso de THC sobre o tema que demonstram beneficios associados a efeitos colaterais a depender da dose utilizada.
Como vários ensaios randomizados, multicêntricos e controlados por placebo avaliaram o uso de cannabis medicinal para a fibromialgia, o nível de evidência é II. No entanto, esta evidência produz apenas uma recomendação de grau C devido à falta de evidências de apoio de numerosos ensaios clínicos e à necessidade de mais ensaios randomizados controlados por placebo com amostras maiores.
Dor neuropática
A dor neuropática é definida como dor secundária a uma lesão ou doença do sistema somatossensorial, pode ser causada por diversas etiologias, como condições metabólicas (por exemplo, neuropatia diabética), condições autoimunes, trauma, infecção ou exposição a toxinas. A dor neuropática é estimada acometer 7% e 10% da população geral, e subdividida em dor neuropática central e dor neuropática periférica.
As causas centrais de dor neuropática incluem : dor secundária a lesão cerebral, lesão medular, acidente vascular cerebral e esclerose múltipla. As causas da dor neuropática periférica incluem: neuralgia do trigêmeo, lesão de nervo periférico, neuralgia pós-herpética e muitas radiculopatias.
Apesar das evidências crescentes da eficácia dos extratos de cannabis no tratamento da dor neuropática, são necessários ensaios clínicos randomizados adicionais com amostras grandes para avaliar melhor a eficácia da cannabis medicinal para a dor neuropática.
Evidências de nível I de vários ensaios clínicos randomizados apoiam o uso de cannabis para dor neuropática. No entanto, devido à falta de ensaios adicionais randomizados e controlados em grande escala, o uso de cannabis para o tratamento da dor neuropática produz uma recomendação de grau C neste momento.
Deste modo, dentre todas as causas de dor crônica, a dor neuropática parece, até o momento, ser um modelo de dor que responde melhor a terapia canábica.
Fontes relacionadas ao tema:
Strand N, D’Souza RS, Karri J, Kalia H, Weisbein J, Kassa BJ, Hussain N, Chitneni A, Budwany RR, Hagedorn J, Pope JE, Deer TR, Sayed D, Abd-Elsayed A. Medical Cannabis: A Review from the American Society of Pain and Neuroscience. J Pain Res. 2023 Dec 8;16:4217-4228. doi: 10.2147/JPR.S425862. PMID: 38094100; PMCID: PMC10716240.