O bloqueio esfenopalatino é um procedimento médico utilizado para tratar certas condições de dor crônica, especialmente dores de cabeça severas e condições faciais.
O gânglio esfenopalatino onde é realizado este bloqueio modula a nocicepção craniofacial e o fluxo parassimpático, tornando-se um alvo promissor para o tratamento das cefaleias com sintomas autonômicos ou de envolvimento trigeminal.
É uma técnica cada vez mais utilizada na neurocirurgia devido à sua eficácia e segurança, mas como qualquer procedimento médico, é essencial entender suas indicações e contraindicações antes de realizá-lo.
Este artigo abordará quando o bloqueio esfenopalatino é indicado, os tipos de dores de cabeça ou condições faciais que podem se beneficiar deste tratamento, além das precauções que devem ser consideradas antes da sua indicação.
Quais as Indicações para a realização do Bloqueio Esfenopalatino?
O bloqueio esfenopalatino é frequentemente indicado para o tratamento de várias formas de dores faciais, a cefaleia em salvas, outras dores de cabeça autônomas trigeminais, SUNA, SUNT ou hemicrania paroxística. Além disso, sua indicação pode ser considerada em casos de status migranoso (crise de enxaqueca de forte intensidade sem melhora com medicamentos abortivos de crise, com duração superior a 72 horas).
Essas condições podem ser extremamente debilitantes e, em muitos casos, não respondem bem aos tratamentos convencionais, como medicamentos orais associados a mudanças no estilo de vida. Para esses pacientes, o bloqueio do gânglio esfenopalatino pode oferecer um alívio significativo.
Além das dores faciais de causas neuropáticas diversas com sintomas autonômicos, o bloqueio esfenopalatino também pode ser indicado como uma alternativa tratamento de dores faciais crônicas.
Para alguns pacientes, especialmente aqueles que não respondem bem aos medicamentos, o bloqueio esfenopalatino pode proporcionar alívio da dor e melhorar a qualidade de vida.
Como o Bloqueio Esfenopalatino Funciona?
O gânglio esfenopalatino está localizado na base do crânio, atrás do nariz. Este gânglio refere informações sensórias de vias simpáticas e parassimpáticas que levam informações nervosas para a face e para ao crânio e estão envolvidos na transmissão de sinais de dor da face e da cabeça para o cérebro.
Ao injetar um anestésico local ou um agente neuromodulador no gânglio esfenopalatino, podemos interromper temporariamente esses sinais de dor, proporcionando alívio para o paciente.
Como é realizado o Bloqueio Esfenopalatino por punção?
O procedimento em si é relativamente simples e minimamente invasivo. Utilizamos sedação anestésica, em ambiente hospitalar, e, em alguns casos utilizamos uma anestesia geral rápida para a realização do procedimento a depender as sensibilidades locais que o paciente apresente.
O uso da radioscopia intraoperatória guia a localização anatômica da região através do acesso infrazigomático e o uso de contraste intratecal pode auxiliar na sua localização exata. Utilizamos de material agulha de bloqueio para a realização da punção.
O procedimento é geralmente bem tolerado, com poucos efeitos colaterais, e os pacientes podem retornar às suas atividades normais um dia após o procedimento.
Condições Clínicas na dor crônica onde o Bloqueio Esfenopalatino pode ser útil e sua aplicabilidade
Distúrbios como enxaqueca, cefaleia em salvas, hemicrania contínua e hemicrania paroxística podem apresentar esses sintomas autonômicos. Os sintomas e sinais de rinorreia, lacrimejamento, congestão nasal, edema conjuntival e edema periorbital são resultados dessa atividade parassimpática durante algumas crises de dor facial.
Distúrbios de cefaleia, como enxaquecas e cefaleias em salvas, envolvem a hiperativação do sistema trigeminovascular. Gatilhos como flutuações hormonais, estresse e alimentos específicos ativam neurônios sensoriais, liberando neuropeptídeos pró-inflamatórios, incluindo o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e a substância P. Essas moléculas induzem vasodilatação,aumentam a permeabilidade vascular e amplificam a sinalização da dor.
O núcleo salivatório superior é a raiz parassimpática do gânglio esfenopalatino no tronco encefálico. O bloqueio anestésico no gânglio espenopalatino impede esta atividade parassimpática responsável por estes sintomas autonômicos característicos em algumas crises de dor facial. Além disso, existem amplas conexões do gânglio esfenopalatino com os nervos trigêmeo e facial.
Cefaleia em Salvas- como o bloqueio esfenopalatino pode aliviar seus sintomas?
A cefaleia em salvas, conhecida por ter como característica singular à sua intensidade, é uma das formas mais dolorosas de cefaleia. O bloqueio esfenopalatino pode reduzir significativamente a frequência e a gravidade dos ataques, proporcionando alívio rápido e duradouro. Até 20% dos casos de cefaleia em salvas revelam-se resistentes aos tratamentos farmacológicos, devendo, neste caso, ser considerados procedimentos intervencionistas.As crises de cefaleia em salvas costumam durar de 2 semanas a 3 meses, seguidos por uma fase de remissão de pelo menos 14 dias.
Neuralgia do trigêmio- como o bloqueio esfenopalatino pode aliviar seus sintomas?
A neuralgia do trigêmeo, uma condição que causa dor facial severa, também é uma indicação comum para o bloqueio esfenopalatino. Pacientes com neuralgia do trigêmeo frequentemente experimentam dor que é desencadeada por atividades cotidianas simples, como comer ou falar. O bloqueio esfenopalatino pode ajudar a interromper os ciclos de dor e proporcionar alívio para esses pacientes, especialmente quando outras opções de tratamento falharam. Principalmente em casos de a neuralgia trigeminal é causada por alguma condição neurológica especifica como por exemplo a esclerose múltipla, dor pos herpética.
Outras condições que podem se beneficiar incluem dores de cabeça associadas a disfunções autonômicas, como a síndrome de Raeder, e dor pós-operatória após intervenções neurocirúrgicas ou dentárias. Em cada um desses casos, o bloqueio esfenopalatino pode ser uma opção valiosa para o manejo da dor, especialmente em pacientes que procuram uma alternativa aos tratamentos farmacológicos convencionais.
Contraindicações e Precauções sobre o Bloqueio Esfenopalatino
Apesar de suas vantagens, o bloqueio esfenopalatino não é adequado para todos os pacientes. A presença de infecção ativa no local da injeção ou nas proximidades. Injetar anestésico em uma área infectada pode disseminar a infecção, agravando a condição do paciente. Além disso, pacientes com distúrbios de coagulação ou que estão tomando anticoagulantes devem ter cuidado extra, pois o procedimento pode aumentar o risco de sangramento.
Pacientes com histórico de cirurgias nasofaríngeas ou trauma na área do gânglio esfenopalatino também devem ser avaliados com cautela. Alterações anatômicas resultantes dessas condições podem dificultar o acesso ao gânglio ou aumentar o risco de complicações. Nesses casos, é essencial que o médico avalie cuidadosamente os riscos e benefícios antes de proceder com o bloqueio.
Quando o bloqueio esfenopalatino tem uma duração curta o que pode ser feito?
Existem outras técnicas de controle da dor nesta região que podem ser realizadas após o bloqueio positivo e com curta duração de efeitos.
A radiofrequência percutânea, utilizado uma cânula conectada ao um gerador externo, que emite uma corrente elétrica que aumenta a temperatura na ponta do eletrodo, causando uma lesão térmica, sendo uma forma de modulação da dor. A radiofrequência é notavelmente eficaz no tratamento de cefaleias em salvas, alcançando uma redução de aproximadamente 50% nos dias de cefaleia, preservando ao mesmo tempo a função sensorial e motora da região.
No entanto, a técnica apresenta riscos, incluindo dormência persistente, formação de neuroma e lesão acidental do nervo sensorial se a precisão não for mantida durante a inserção da agulha.
A crioneurólise ou crioablação, é uma outra forma neuromodulação percutânea, utiliza uma cânula que faz a neurólise física que utilizada temperaturas negativas para fazer a modulação da dor. A crioablação utiliza frio extremo para interromper a condução nervosa por meio da degeneração Walleriana e do apoptose, proporcionando uma interrupção temporária, porém eficaz, do fluxo parassimpático. Como efeitos colaterais relacionados a crioablação do gânglio esfenopalatino são relatados a dormência facial e dor de cabeça, que são geralmente leves e autolimitados.
Considerações Finais
O bloqueio esfenopalatino é uma ferramenta valiosa no arsenal da neurocirurgia para o tratamento de dores de cabeça crônicas e dores faciais. Suas indicações incluem condições como, cefaleias em salvas e neuralgia do trigêmeo, algias faciais com sintomas autonômicos podendo proporcionar alívio significativo da dor. No entanto, como qualquer procedimento médico, é fundamental considerar os riscos, benefícios e precauções para garantir a segurança e a eficácia do tratamento. Com uma avaliação cuidadosa e uma abordagem individualizada, o bloqueio esfenopalatino pode oferecer uma melhora substancial na qualidadede vida dos pacientes que sofrem de condições dolorosas crônicas.
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