Muitos podem achar estranho associar a dor aos distúrbios emocionais, mas existe uma conexão entre estas distintas doenças;
As emoções podem predispor ou modular a dor. A dor é descrita como uma experiência individual que é influenciada pela história de cada pessoa. Sentimos a dor de uma maneria única e individual, que é influenciada pelo meio que vivemos, pela nossa cultura e pelas nossas memórias afetivas e dolorosas. Tanto fatores emocionais como cognitivos influenciam a nossa dor; Dentre os diagnósticos mais comuns da psiquiatria, em paciente acometidos por dor crônica, duas doenças merecem destaque: A depressão e a ansiedade.
Transtorno de ansiedade: qual a sua relação com a dor crônica?
A Ansiedade, por exemplo, é particularmente documentada nas dores de cabeça, na fibromialgia e na dor abdominal, inclusive em crianças e idosos; Pode chegar a 35–50% em pacientes com dor crônica.
Sua presenca é 2 a 3 x maior em pessoas com queixa de dor crônica nas costas em comparação com indivíduos sem dor; Existe uma redução dos limiares de dor, bem como o aumento da atenção aos sentimentos e sensações experimentados podem explicar a amplificação da dor.
Os distúrbios de ansiedade têm forte associação com fatores genéticos e experiência pregressa ( acontecimentos da vida traumáticos e estresse); Podem se manifestar em forma de estados de dor física: dor tipo aperto ou constrição ou dor torácica atípica, esta última especialmente durante ataques de pânico.
Alguns sintomas são relacionados aos distúrbios de ansiedade, tais como:
- Antecipação;
- Irritabilidade;
- Sensibilidade ao barulho;
- Inquietação;
- Pouca Concentração;
- Pensamentos Preocupados;
- Distúrbios do sono: Insônia e Terror Noturno;
O tratamento da ansiedade deve integrar o controle da dor. Idealmente, podemos escolher uma terapia que inclua as duas doenças. Adicionada sempre ao acompanhamento psicológico. A terapia visa encontrar os gatilhos da ansiedade e da dor e buscar ferramentas de enfrentamento.
Depressão: Qual a sua relação com a dor crônica?
A depressão é a doença psiquiátrica que sofre com o preconceito da população geral. Muitas pessoas erroneamente a classificam como uma ” frescura”, algo sem relavância. Um dado que a maioria desconhece, a depressão pode causar a morte. Se não for tratada, a depressão pode levar ao suicídio — a segunda principal causa de morte entre as idades de 15 a 29 anos no mundo;
O episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sintomas de uma lista abaixo:
- Alterações no apetite e peso;
- Alterações no sono e na atividade;
- Falta de energia;Sentimentos de culpa;
- Problemas para pensar e tomar decisões;
- Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
A depressão é uma resposta inflamatória no cérebro. Essa inflamação é provocada por citocinas pró-inflamatórias, que também podem desencadear dor; assim, os sintomas iniciais da depressão podem intensificar ou reduzir a capacidade de tolerar a dor.
A depressão é o estado afetivo mais associado à dor crônica. Presente em até 20 – 70% dos pacientes, é o que mostra a grande maioria dos estudos sobre o assunto. Os pacientes que sofrem com dor crônica apresentam de três a cinco vezes mais depressão de os pacientes sem condições dolorosas. Além disso, mais da metade dos pacientes que sofreram pelo menos um episódio depressivo maior na vida apresentam dor!
Enquanto a dor crônica pode, indubitavelmente, causar depressão, a presença de depressão também representa um fator predisponente para o aparecimento e cronicidade da dor. Assim como na ansiedade, a depressão necessita de tratamento medicamentoso e psicoterápico associado e direcionado.Pacientes com depressão e dor tem dificuldades de discernir que a doença tem períodos de regressão e piora ao longo da vida. Necessitam tratamento para as crises e para a manutenção entre estes episódios de piora. O acompanhamento especializado é fundamental para a vigilância dos sintomas.
Como atingir o sucesso do tratamento da dor?
Os acertos e os erros dos tratamentos anteriores devem ser avaliados, bem como, a aderência do paciente nos acompanhamentos multidisciplinares alinhados. Sabemos do impacto da dor relacionada aos distúrbios psiquiátricos na qualidade de vida dos pacientes.As abordagens terapêuticas enfatizam cada vez mais a motivação, o enfrentamento e a aceitação da doença.
É importante ao longo do tratamento da dor crônica avaliar o quando uma condição psiquiátrica associada está impedindo o paciente de atingir uma melhora dos seus sintomas. Existem opções de tratamento medicamentoso que podem melhorar tanto a depressão e a ansiedade como melhorar a dor crônica. Mas, em alguns casos, é necessario a associação com a psicoterapia, principalmente para resolução de potenciais gatilhos de dor, ansiedade, luto e conflitos mal resolvidos.
Podemos ter uma vida plena, com bom relacionamento com nossos entes queridos, sermos produdivos no trabalho, concretizar nossos sonhos; realizar nossas metas, apesar da presença da dor, associada a depressão ou ansiedade; Buscar ajuda e um tratamento adequado não são tarefas simples. O primeiro passo pode ser difícil, mas não pode ser um impecilio para o seu tratamento.