A dor neuropática periférica em membros inferiores é uma condição desafiadora que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Apesar das opções de tratamento existentes, a cirurgia emergiu como uma alternativa promissora para aqueles que enfrentam dificuldades na gestão da dor.
Compreendendo a Dor Neuropática Periférica
A dor neuropática periférica é uma condição complexa que desafia tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde. Essa forma de dor é caracterizada por sensações anormais, como queimação, formigamento, picadas e, por vezes, a sensação de choques elétricos, ou queimação, que ocorrem nos membros inferiores e membros superiores, com uma intensidade aumentada nas extremidades, em um gradiente distal. Padrão bota e luva. Diferentemente da dor somática, causada por lesões físicas evidentes, a dor neuropática periférica tem origem no sistema nervoso, resultando de danos ou disfunções nos nervos periféricos.
A neuropatia periférica pode ter várias causas, sendo a diabetes uma das mais comuns. Nos casos de neuropatia diabética, a elevação prolongada dos níveis de glicose no sangue pode danificar os nervos ao longo do tempo, resultando em sintomas dolorosos nos membros inferiores.
Além disso, outras condições, como infecções virais, tratamentos quimioterápicos e radioterápicos, deficiências nutricionais, traumas e compressões nervosas, podem contribuir para o desenvolvimento da neuropatia periférica. Entender a natureza intricada dessa dor é crucial para a formulação de estratégias de tratamento eficazes.
Ao contrário da dor aguda, a dor neuropática periférica muitas vezes persiste por longos períodos, afetando não apenas a sensação física, mas também a qualidade de vida emocional e social dos pacientes. Essa dor crônica pode levar à diminuição da mobilidade, distúrbios do sono e até mesmo questões psicológicas, ampliando a necessidade de intervenções terapêuticas mais abrangentes.
A dor neuropática periférica não é apenas física; ela também impacta a saúde mental dos pacientes. A constante presença de dor pode levar à ansiedade, depressão e, em alguns casos, ao isolamento social. A interseção entre os aspectos físicos e emocionais dessa condição destaca a importância de abordagens de tratamento holísticas, considerando não apenas a gestão da dor, mas também o suporte psicológico e social para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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Dor crônica e Neuropatia periférica diabética
A neuropatia periférica diabética (NPD) é uma das complicações crônicas mais prevalentes do diabetes. Ela ocorre em mais de 50 % das pessoas com diabetes em algum momento a longo suas vidas. E em 15% a 25% destes pacientes vai se apresentar como uma dor neuropática, referida como “NPD dolorosa”.
No entanto, o controle glicêmico por si só não pode prevenir ou melhorar totalmente a DPN, especialmente em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Existem outros fatores de risco metabólicos além da hiperglicemia para a NPD como obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial sistêmica.
Além disso, a obesidade pode ser um fator de risco para neuropatia periférica, mesmo na ausência de diabetes, e características de NPD podem ser observadas em indivíduos com pré-diabetes.
No entanto, não está claro se existem diferenças na fisiopatologia e nos fatores de risco entre os pacientes como neuropatia que irão apresentar dor daqueles que não apresentam dor neuropática periférica. Sexo feminino, obesidade e maior regeneração das fibras nervosas dérmicas foram sugeridos como fatores de risco para NPD dolorosa em comparação com NPD indolor.
Opções de Tratamento Convencionais
Antes de considerar a cirurgia, os pacientes geralmente passam por tratamentos convencionais, com medicamentos como: os analgésicos e anti inflamatórios, medicamentos de uso tópico como- emplastos de lidocaína, patch de capsaicina em altas concentrações (8%), os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina como a venlafaxina e a duloxetina; antidepressivos tricíclicos como a amitriptilina e nortriptilina; anticonvulsivantes gabapentinoides como a pregabalina ou a gabapentina, bloqueadores do canal do sódio como a carbamazepina e oxcarbazepina podem ser utilizados no controle da dor por neuropatia periférica. O uso dos medicamentos pode ser como monoterapia( um único medicamento para o tratamento) ou em associação de duas ou mais classes medicamentosas.
Fisioterapia com o uso de TENS (estimulação elétrica transcutânea) são uma forma de tratamento não invasiva e não farmacológica que pode ser utilizada no controle da dor por neuropatia periférica. Além disso, bloqueios endovenosos de lidocaína podem ser uma opção de tratamento. Embora essas abordagens possam oferecer alívio temporário, muitos pacientes continuam a enfrentar desafios persistentes na gestão da dor, motivando a busca por alternativas mais duradouras e eficazes.
A abordagem terapêutica mais benéfica atualmente para o tratamento de NPD dolorosa não controlada que não responde à monoterapia é a terapia combinada, adesivo de capsaicina a 8% (não disponível no Brasil) ou implante do eletrodo medular (SCS).
Cirurgia como Opção Terapêutica: Implante do Eletrodo Medular
A cirurgia para dor neuropática periférica em membros inferiores emerge como uma opção terapêutica intrigante, buscando proporcionar alívio sustentável a pacientes que enfrentam desafios significativos na gestão da dor crônica. Diante da complexidade dessa condição, os procedimentos cirúrgicos oferecem uma abordagem direcionada, visando atenuar as causas subjacentes da dor e restaurar a função nervosa comprometida.
Nos casos em que não há compressão nervosa e sim lesão nervosa na via que transmite a dor a neuroestimulação com o uso do implante de eletrodo medular surge como abordagem cirúrgica inovadora, principalmente no tratamento da dor neuropática periférica causada pela neuropatia diabética, nos Estados Unidos este tratamento já é recomendado desde 2022.
Neste método, dispositivos implantáveis geram impulsos elétricos controlados, interrompendo a transmissão dos sinais de dor ao longo dos nervos. Esta técnica não apenas modula a percepção da dor, mas também oferece aos pacientes uma maior autonomia na gestão de sua dor, permitindo a personalização dos estímulos de acordo com a intensidade e a localização da dor experimentada.
É fundamental destacar que a decisão de optar pela cirurgia deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa da condição individual de cada paciente. Nem todos os casos de dor neuropática periférica podem ser resolvidos cirurgicamente, e a escolha do procedimento adequado depende da natureza específica da neuropatia e da resposta individual do paciente aos tratamentos anteriores. O paciente ideal deve ter dor em membros inferiores ou bem localizada em uma região periférica e um controle adequado da sua doença de base.
Além disso, é necessário considerar que a cirurgia, como qualquer intervenção médica, não está isenta de riscos. Complicações potenciais, embora raras, incluem infecções, hematomas, deslocamento de eletrodo, quebra de eletrodo.
Caso o paciente seja um candidato ao implante do eletrodo medular ele deve realizar o teste a estimulação: com o uso do eletrodo implantado cirurgicamente, de forma percutânea e conectado a um gerador externo. Caso haja resposta positiva ao controle da dor, o gerador definitivo é implantado em outra etapa cirúrgica.
A compreensão transparente desses riscos, aliada a uma comunicação aberta entre médicos e pacientes, é essencial para uma tomada de decisão informada e colaborativa.
A personalização dos planos de tratamento, a integração de técnicas cirúrgicas inovadoras e a colaboração estreita entre pacientes e profissionais de saúde são elementos cruciais para alcançar o sucesso terapêutico.
Em última análise, a cirurgia representa não apenas uma intervenção física, mas uma jornada rumo ao alívio sustentável e à melhoria da qualidade de vida para aqueles que enfrentam os desafios persistentes da dor neuropática periférica.
Desafios e Considerações Pré-Operatórias
Apesar dos benefícios potenciais, a cirurgia para dor neuropática periférica não é isenta de desafios. Avaliações detalhadas, incluindo estudos de imagem e testes de função nervosa, são essenciais para determinar a adequação do paciente ao procedimento. Além disso, é crucial que os pacientes compreendam as expectativas realistas em relação aos resultados da cirurgia, considerando que nem todos os casos respondem da mesma forma.
Recuperação Pós-Operatória e Expectativas
A recuperação pós-operatória desempenha um papel crucial no sucesso da cirurgia para dor neuropática periférica em membros inferiores. Após o procedimento, os pacientes são guiados por um período de cuidados intensivos, durante o qual a gestão da dor, o monitoramento da cicatrização e a reabilitação se tornam focos essenciais.
A fisioterapia desempenha um papel vital, ajudando os pacientes a recuperar a mobilidade, fortalecer a musculatura afetada e facilitar a adaptação às mudanças pós- cirúrgicas. A colaboração contínua entre pacientes e profissionais de saúde é fundamental nessa fase, permitindo ajustes personalizados no plano de recuperação à medida que as necessidades individuais se tornam mais claras.
Entender as expectativas pós-operatórias é igualmente importante para os pacientes. Embora muitos experimentem alívio imediato da dor, é fundamental reconhecer que a recuperação completa pode levar tempo. A paciência é essencial, pois cada indivíduo responde de maneira única à cirurgia, e a consolidação dos benefícios pode ocorrer gradualmente.
Estabelecer expectativas realistas é parte integrante do processo, com os profissionais de saúde desempenhando um papel crucial ao fornecer informações claras sobre o que os pacientes podem esperar durante o período pós-operatório.
Esse entendimento compartilhado contribui para uma jornada de recuperação mais tranquila e sustentável, promovendo não apenas a melhoria da saúde física, mas também o bem-estar emocional dos pacientes.
Conclusão Final e Visão de Futuro
À medida que exploramos o papel da cirurgia na abordagem da dor neuropática periférica em membros inferiores, é crucial reconhecer a complexidade dessa condição e a necessidade de abordagens individualizadas. A integração de avanços tecnológicos, ética, equidade e educação contínua é vital para garantir que a cirurgia continue a ser uma opção eficaz e acessível para aqueles que enfrentam desafios significativos na gestão da dor.
A visão de futuro envolve não apenas aprimorar as técnicas cirúrgicas existentes, mas também desenvolver abordagens mais personalizadas, considerando a diversidade de causas subjacentes à dor neuropática periférica. À medida que avançamos, é fundamental manter um foco na qualidade de vida do paciente, incorporando princípios éticos, equidade e uma abordagem colaborativa para oferecer tratamentos eficazes e compassivos.
Fontes sobre o assunto:
Jang HN, Oh TJ. Pharmacological and Nonpharmacological Treatments for Painful Diabetic Peripheral Neuropathy. Diabetes Metab J. 2023 Nov;47(6):743-756. doi: 10.4093/dmj.2023.0018. Epub 2023 Sep 6. PMID: 37670573; PMCID: PMC10695723.