O comprometimento medular, seja ele motor e/ou sensitivo, em pacientes paraplégicos e tetraplégicos, impacta em diversas funções da vida diária do paciente. Inicialmente, vimos que a insegurança sobre a nova…
O comprometimento medular, seja ele motor e/ou sensitivo, em pacientes paraplégicos e tetraplégicos, impacta em diversas funções da vida diária do paciente. Inicialmente, vimos que a insegurança sobre a nova realidade se associa ao isolamento. Muitos pacientes adultos sentem vergonha da sua nova condição e, não procuram compreender estes sentimentos.
A lesão medular, muitas vezes, ocorre de forma abrupta e novas necessidades se instalam subitamente, alterando a dinâmica corporal do indivíduo, sem um tempo hábil para serem processadas.
Depender de terceiros para realizar sua higiene íntima, o uso de fraldas e a necessidade de sondagens vesicais, para esvaziar a bexiga, geralmente, são situações inseridas na vida dos pacientes, em conjunto com o déficit de força propriamente dito. Estas novas condições, são motivo de repúdio, inicialmente, já que a memória corporal passada entra em conflito com as novas sensações do corpo atual.
A dependência do outro, impacta na expressão individual de liberdade. De certa forma, o paciente se sente ferindo a sua própria intimidade e tem a impressão de estar vivendo uma invasão de sua privacidade. A deficiência física transforma a vida do paciente e a incapacidade de se encaixar no mundo instala-se, associada ao sofrimento que esta tristeza causa no núcleo familiar.
É como se um luto precisasse ser processado e, como qualquer perda, deve ser abordada. A reabilitação é impactada, significativamente, pelo comportamento individual dos pacientes e, os resultados das terapias físicas, dependem do processo de enfrentamento.
Precisamos reconstruir este sentimento, por vezes não legitimado e, consequentemente, não processado, para que os pacientes consigam buscar um novo objetivo individual e abandonar as perdas causadas pela deficiência física.
Os pacientes sentem um conflito emocional, uma mistura de muitos sentimentos como: o medo, a agressividade, a raiva, a desesperança, a inferioridade, a impulsividade, a insegurança, a revolta, a negação, o isolamento social, além da baixa autoestima, dos distúrbios do sono, da depressão, associados a uma perda de sua própria identidade. A nova condição física é desconhecida ao paciente, conviver e enfrentar uma sequela motora, momentânea ou permanente, é uma tarefa difícil e imensurável. Sair de casa em uma cadeira de rodas, utilizar carros adaptados ou que tenham acessibilidade, se locomover pelas ruas, ir ao um restaurante, ao cinema, à farmácia ou mesmo ao mercado, tornam-se tarefas difíceis aos olhos de quem é julgado por ser diferente.
O indivíduo precisa processar a perda da condição de vida anterior e, somente passando por esta fase, conseguirá construir o presente e o futuro de sua nova condição física.
Ter deficiência física não pode impedir o indivíduo de conhecer suas aptidões, desenvolver o lado pessoal e profissional e ter novos projetos.
Precisamos focar em duas mudanças importantes:
– Conhecer e aceitar a nova realidade;– Experimentar e lidar com todas as emoções e problemas advindos da deficiência.
Estas difíceis tarefas devem ser abordadas pelos profissionais de saúde que cuidam deste perfil de pacientes, para auxiliá-los nas ferramentas de enfrentamento. Precisamos redirecionar, não deixar de ver mudanças positivas, seja no autoconhecimento advindo da descoberta de novas aptidões, seja pelo autoconhecimento pessoal. Podemos nos adaptar, perceber que existem pontos positivos. O paciente portador de deficiência física não está sozinho, ele precisa se integrar na sua rede de apoio, não apenas com seu psicólogo, médico ou fisioterapeuta.
A família e os amigos são o suporte no processo de reabilitação. O apoio ao ente querido dá forças e pode influenciar na percepção da pessoa sobre si mesma, sendo um grande alicerce para a superação das adversidades. Precisamos restabelecer a confiança, buscar por estabilidade emocional, vislumbrar novas metas, reconquistar uma nova ideia de liberdade individual. Reconhecer e aceitar o novo corpo de uma forma positiva, é essencial para que o paciente siga em frente e tenha uma vida plena.
Manter expectativas de vida, buscar a superação individual, estabelecer metas concretas passíveis de serem atingidas. Somos mais que uma limitação física, a superação dos obstáculos deve ser maior que as adversidades cotidianas.
Gostaria de deixar como encerramento um trecho de uma palestra do grande exemplo de superação no mundo dos lesados medulares, o ator Christopher Reeve, que ficou tetraplégico após uma acidente, no auge de sua carreira de ator .
‘’Nossas capacidades vão muito além da nossa compreensão. Confie nisso e siga em frente. Supere a voz dentro de você que diz: “Eu não consigo, eu não posso, eu não sou bom o suficiente, eu não sinto isso, eu estou doente, eu não quero”. Isso é igual ao barulho de estática no rádio. Basta limpar a antena, encontrar uma boa recepção e você ficará impressionado com o que pode fazer.‘’ ( página 53)
https://s3.amazonaws.com/reeve-assets-production/PRGPortuguese18.pdf
Quem quiser saber mais sobre o assunto, e ter acesso a cópia completa do seu depoimento visite o site da organização: Fundação Christopher & Dana Reeve.
Seguem algumas dicas de textos sobre o assunto:
https://www.scielo.br/j/rgenf/a/FdggR5pkxgdr5GfF3q8wKPh/?lang=pt