O que é cefaleia em salvas?
As cefaleias em salvas são uma condição neurológica caracterizada por dores de cabeça intensas e debilitantes, em um lado da face, mais precisamente na primeira porção do nervo trigêmeo, a porção oftálmica, se localizando na região orbital, e estes sintomas dolorosos ocorrem em surtos.
Estudos descritivos estimam que de 68-88% dos pacientes a dor se apresente na região orbital, incluindo a localização retroorbitária da dor, ou seja, dor sentida na porção interna do olho.
Embora essa condição seja relativamente rara, ela acomete 1 a cada 1000 pessoas, sendo considerada uma das mais dolorosas, frequentemente descrita como uma dor extrema e penetrante, ao redor de um dos olhos.
Como muitas condições médicas complexas, as cefaleias em salvas são frequentemente mal compreendidas, o que leva à disseminação de mitos e informações incorretas. Neste artigo, vamos desmistificar algumas dessas crenças comuns e esclarecer o que realmente é verdade sobre as cefaleias em salvas.
Mito 1: Cefaleias em Salvas São Apenas Dores de Cabeça Comuns?
Não são! Um dos maiores mitos sobre as cefaleias em salvas é que elas são apenas uma forma mais intensa de dor de cabeça comum. Muitas pessoas confundem cefaleias em salvas com enxaquecas ou cefaleias tensionais, mas essa condição é única e muito diferente. As cefaleias em salvas são caracterizadas por uma dor extremamente intensa, frequentemente descrita como uma sensação de perfuração, localizada ao redor de um olho.
A dor é tão severa que pode levar a agitação, inquietação e até mesmo ao desejo de se ferir para aliviá-la. Além de impactar drasticamente na qualidade de vida de produção laboral de quem é acometido. Existe inclusive uma tendência suicida em pacientes com Cefaleia em Salvas e ela é atribuída principalmente à intensidade e frequência das crises de salvas e pode ser normalizada se os episódios ou ataques de forem tratados adequadamente. Além disso, os sintomas depressivos estão associados a esta população tanto na fase das crises de dor como nas fases da doença entre as crises de dor.
Além da localização característica, e descrição diferente de uma dor de cabeça comum, a cefaleia em salvas se apresenta em surtos de dor, também descrita como salvas. Ao contrário das dores de cabeça comuns, as cefaleias em salvas ocorrem em ciclos, com episódios de dor que podem durar semanas ou meses, seguidos por períodos de remissão.
Cada episódio de crise pode durar entre 15 minutos a 3 horas, e as crises podem ocorrer várias vezes ao dia. Isso contrasta fortemente com outras formas de dor de cabeça, que geralmente não seguem esse padrão cíclico e têm intensidade variável.
É importante entender que as cefaleias em salvas são uma condição neurológica séria que requer tratamento especializado. Tratá-las como simples dores de cabeça pode atrasar o diagnóstico correto e impedir que o paciente receba o cuidado adequado.
Mito 2: Somente Homens Sofrem de Cefaleias em Salvas?
Outro mito comum é que as cefaleias em salvas afetam apenas os homens. Embora essa condição seja mais prevalente em homens, especialmente em jovens adultos, as mulheres também podem sofrer de cefaleias em salvas. A diferença na prevalência entre os gêneros tem diminuído ao longo dos anos, e estudos recentes mostram que cada vez mais mulheres estão sendo diagnosticadas com essa condição.
A maioria dos estudos que compararam diferenças relacionadas ao sexo e as características das manifestações clínicas da cefaleia em salvas foram semelhantes entre mulheres e homens.
No entanto, náuseas, ptose palpebral, miose, edema palpebral, congestão nasal e comorbidades, como doenças da tireoide e transtornos psiquiátricos, foram relatadas com mais frequência em mulheres do que em homens.Enquanto os homens parecem apresentar lacrimejamento e suor facial com mais frequência do que as mulheres.
No entanto, a dor e os sintomas associados às cefaleias em salvas são igualmente debilitantes para todos os pacientes, independentemente do gênero.
Portanto, é fundamental que qualquer pessoa que apresente sintomas de cefaleias em salvas busque orientação médica, independentemente do seu gênero. A crença de que as mulheres não podem ser afetadas por essa condição pode levar a diagnósticos tardios ou errados.
Mito 3: O Estresse é a Principal Causa das Cefaleias em Salvas?
Muitas pessoas acreditam que o estresse é a principal causa das cefaleias em salvas, o que não é verdade. Embora o estresse possa ser um gatilho para algumas pessoas, as cefaleias em salvas são uma condição neurológica com causas complexas, que ainda não são completamente compreendidas.
É verdade que o estresse pode exacerbar os sintomas em algumas pessoas, mas não é correto dizer que ele é a causa raiz. Na verdade, as cefaleias em salvas muitas vezes surgem sem uma causa aparente ou gatilho identificável.
O tabagismo e o consumo de álcool sim são possíveis fatores de risco associados a crises de cefaleia em salvas e estão associados a gravidade das crises, e são citados em diversos estudos relacionados ao tema. Reconhecer os gatilhos da dor são essenciais para elaborar estratégias individuais de tratamento.
Compreender que o estresse não é a única causa das cefaleias em salvas é crucial para buscar tratamentos mais eficazes. Focar apenas no manejo do estresse pode levar à frustração e ao desespero quando as crises persistem, subestimando a complexidade da condição.
Verdade 1: Cefaleias em Salvas Podem Ser Incapacitantes?
Uma das verdades mais importantes a respeito das cefaleias em salvas é que elas podem ser extremamente incapacitantes. A intensidade da dor, combinada com a frequência das crises, pode tornar impossível para os pacientes manterem suas atividades diárias, incluindo o trabalho, a vida social e até mesmo o sono. A dor pode ser tão intensa que alguns pacientes relatam sentir que não conseguem suportá-la.
Essa incapacidade é uma das razões pelas quais as cefaleias em salvas são conhecidas como dores de cabeça suicidas; A dor pode ser tão insuportável que leva alguns pacientes a considerar o suicídio como uma forma de alívio. É essencial que tanto os pacientes quanto seus entes queridos reconheçam a gravidade dessa condição e busquem ajuda médica imediatamente.
O tratamento para as cefaleias em salvas pode incluir medicamentos para abortar as crises, como triptanos, e opções preventivas, como bloqueadores de canais de cálcio, antidepressivos ou anticorpos monoclonais injetáveis. Em casos mais graves, pode ser considerada bloqueios seriados, estimulação do nervo occipital dentre outros tratamentos invasivos.
Verdade 2: Diagnóstico Correto é Essencial para o Tratamento Adequado da Cefaleia em Salvas?
O diagnóstico correto das cefaleias em salvas é essencial para que os pacientes recebam o tratamento adequado. Infelizmente, devido à raridade da condição e à semelhança dos sintomas com outras formas de dor de cabeça, muitos pacientes passam anos sem um diagnóstico correto. Esse atraso no diagnóstico pode levar a um sofrimento prolongado e ao uso inadequado de medicamentos.
Um diagnóstico correto geralmente envolve uma avaliação detalhada dos sintomas, incluindo a frequência, duração e localização da dor. Exames de imagem, como ressonância magnética, podem ser utilizados para descartar outras causas de dor de cabeça, como tumores ou alterações vasculares.
Uma vez diagnosticadas, as cefaleias em salvas podem ser gerenciadas com uma combinação de tratamentos agudos e preventivos. O tratamento adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a frequência e a intensidade das crises.
Verdade 3: Apoio Psicológico é Importante no Tratamento da Cefaleia em Salvas?
Devido ao impacto severo das cefaleias em salvas na qualidade de vida, o apoio psicológico é uma parte importante do tratamento. Pacientes que sofrem de cefaleias em salvas muitas vezes enfrentam depressão, ansiedade e isolamento social devido à natureza debilitante da dor. O apoio psicológico pode ajudar os pacientes a lidar com esses desafios emocionais e melhorar sua capacidade de gerenciar a condição.
Terapias como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) podem ser úteis para ajudar os pacientes a desenvolver estratégias de enfrentamento, reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral. Grupos de apoio também podem ser uma fonte valiosa de conforto e compreensão, proporcionando um espaço seguro para compartilhar experiências e aprender com outros que enfrentam desafios semelhantes.
É essencial que os pacientes com cefaleias em salvas recebam um cuidado multidisciplinar que inclua tanto o tratamento médico quanto o apoio emocional. Isso pode fazer uma diferença significativa na maneira como os pacientes lidam com a condição e na sua qualidade de vida.
Desmistificar os mitos sobre as cefaleias em salvas é fundamental para garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado e o apoio de que precisam. Embora essa condição seja menos comum e complexa, um diagnóstico assertivo associado a um tratamento adequado, podem ajudar a reduzir o sofrimento dos pacientes e intensificar as possibilidades de melhora. Se você ou alguém que você conhece sofre de cefaleias em salvas, é crucial procurar orientação médica especializada para obter o diagnóstico e tratamento corretos.
Referências Bibliográficas sobre o assunto:
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